Da minha estante VI
Sinto-as chorar por mim, veladas
Ao pôr do Sol, pelos jardins...
Na sua mágoa azul revive
À minha dor de mãos finadas
Sobre cetins...
(Indícios de Ouro, 1914)
FIM
Quando eu morrer batam em latas,
Rompam aos saltos e aos pinotes
Façam estalar no ar chicotes
Chamem palhaços e acrobatas.
Que o meu caixão vá sobre um burro
Ajaezado à andaluza:
A um morto nada se recusa,
E eu quero por força ir de burro ...
(Últimos Poemas, 1916)
Rompam aos saltos e aos pinotes
Façam estalar no ar chicotes
Chamem palhaços e acrobatas.
Que o meu caixão vá sobre um burro
Ajaezado à andaluza:
A um morto nada se recusa,
E eu quero por força ir de burro ...
(Últimos Poemas, 1916)
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Grandes mistérios habitam
O limiar do meu ser,
O limiar onde hesitam
Grandes pássaros que fitam
Meu transpor tardo de os ver.
São aves cheias de abismo,
Como nos sonhos as há.
Hesito se sondo e cismo,
E à minha alma é cataclismo
O limiar onde está.
Então desperto do sonho
E sou alegre da luz,
Inda que em dia tristonho;
Porque o limiar é medonho
E todo passo é uma cruz.
(Fernando Pessoa - grandes mistérios habitam)
By João Magalhães, at 2:38 AM
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