APENASEU

Monday, March 05, 2007

Da minha estante VI

SUGESTÃO

As companheiras que não tive,
Sinto-as chorar por mim, veladas
Ao pôr do Sol, pelos jardins...
Na sua mágoa azul revive
À minha dor de mãos finadas
Sobre cetins...

(Indícios de Ouro, 1914)



FIM
Quando eu morrer batam em latas,
Rompam aos saltos e aos pinotes ­
Façam estalar no ar chicotes
Chamem palhaços e acrobatas.

Que o meu caixão vá sobre um burro
Ajaezado à andaluza:
A um morto nada se recusa,
E eu quero por força ir de burro ...

(Últimos Poemas, 1916)
Mário de Sá-Carneiro (1890-1916)

1 Comments:

  • Grandes mistérios habitam
    O limiar do meu ser,
    O limiar onde hesitam
    Grandes pássaros que fitam
    Meu transpor tardo de os ver.

    São aves cheias de abismo,
    Como nos sonhos as há.
    Hesito se sondo e cismo,
    E à minha alma é cataclismo
    O limiar onde está.

    Então desperto do sonho
    E sou alegre da luz,
    Inda que em dia tristonho;
    Porque o limiar é medonho
    E todo passo é uma cruz.
    (Fernando Pessoa - grandes mistérios habitam)

    By Blogger João Magalhães, at 2:38 AM  

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