Da minha estante V
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A BAILARINA VERMELHA
Ela passa,
a papoila rubra,
esvoaçando graça,
a sorrir...
Original tentação
de estranho sabor:
a sua boca - romã luzente,
a refulgir!...
As mãos pálidas, esguias,
dolorosas soluçando,
vão recortando
em ritmos de beleza
gestos de ave endoidecida...
Preces, blasfémias,
cálidas estesias
passam delirando!...
Mordendo-lhe o seio
túrgido e perfurante,
delira a flama sangrenta
dos rubis...
E a cinta verga, flexuosa,
na luxuria dominante
dos quadris...
Um jeito mais quebrado no andar...
Um pouco mais de sombra no olhar
bistrado de lilás...
E ela passa
entornando dor,
a agonizar beleza!...
Um sonho de volúpia
que logo se desfaz,
em ruivas gargalhadas
dispersas... desgrenhadas!...
Magoam-se os meus sentidos
num cálido rubor...
E nos seus braços endoidecem
as anilhs d'oiro refulgindo
num feérico clamor!...
E ela passa...
Fulva, esguia, incoerente...
Flor de vício
esvoaçando graça
na noite tempestuosa
do meu olhar!...
Como uma brasa ardente,
e infernal e dolorosa,
... a bailar...
a bailar!...
Judith Teixeira
(1880 - 1959)
Noite , 1925
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