APENASEU

Wednesday, September 26, 2007

Sem destino


Vou sem destino certo,
Guiada apenas por este medo
Que me vai enchendo o corpo e a alma,
A cada inspiração, a cada passo.

Decido que não virarei as costas,
Não serei apunhalada à traição
Mas antes em pleno peito,
Sempre de olhos bem abertos,
Aguentando voluntária a violência da dor.
Recuso os caminhos enfeitados
Que o destino social me ofereceu
(em troca de silêncio e cínica felicidade)
Prefiro rasgar-me com raiva e força
Contra todas as intempéries
Contra tudo o politicamente correcto
E por isso falso, oco e sem sentido.
Prefiro seguir em frente e lutar,
Trazer colada à pele a incompreensão
E mesmo o desprezo das maiorias
A aceitar com frenesim consumista
As delícias envenenadas com que o poder
Continua a submeter-nos placidamente…
Vou sem destino certo
Porque mais vale ir deixando marcas à passagem
Do que ser marcado sem passar.

© Reservados os direitos de autor
Foto: J. Augusto

Friday, September 14, 2007

Da minha estante X

AMOR


quando os instantes de amanhã se acumulam nas

paredes da casa, eu -- rasgo as páginas onde te escrevo,

porque sei que tudo será desnecessário, tudo será

frágil. quando imagino o sol que não sei se poderei ver,

esqueço as paredes e,
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com tanta força,
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quero que sejas feliz.


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José Luís Peixoto (n. 1974)
A Casa, a Escuridão, Lisboa, Temas e Debates, 2002
Foto: Pascal Renoux