APENASEU

Sunday, April 22, 2007

Da minha estante VII

ABAIXO EL-REI SEBASTIÃO
*
É preciso enterrar el-rei Sebastião
é preciso dizer a toda a gente
que o Desejado já não pode vir.
É preciso quebrar na ideia e na canção
a guitarra fantástica e doente
que alguém trouxe de Alcácer Quibir.
*
Eu digo que está morto.
Deixai em paz el-rei Sebastião
deixa-o no desastre e na loucura.
Sem precisarmos de sair o porto
temos aqui à mão
a terra da ventura.
*
Vós que trazeis por dentro
de cada gesto
uma cansada humilhação
deixai falar na vossa voz a voz do vento
cantai em tom de grito e de protesto
matai dentro de vós el-rei Sebastião.
*
Quem vai tocar a rebate
os sinos de Portugal?
Poeta: é tempo de um punhal
por dentro da cançaõ.
Que é preciso bater em quem nos bate
é preciso enterrar el-rei Sebastião.
*
Manuel Alegre, O Canto e as Armas, 1967

Wednesday, April 11, 2007

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Assim te recordo
Como não te tive.
Olhos, boca, ombros nus
Seios, gomos doces como beijos
Afagos e loucura, nossas pernas
E as minhas mãos
As minhas mãos, amor
Lentamente louvando a tua existência
No quase receio de profanar-te
Essa pele dourada por meu desejo.

A medo percorrer norte e sul, teu corpo
E em secreta epopeia o prazer aportar
Em doces ondas a salgados cais.

© Reservados os direitos de autor
Foto: Pascal Renoux